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Regina Casé: “Nunca disse que era pobre”.

Você estudou no tradicional colégio católico Sacré-Coeur de Marie, em Copacabana. Você tinha um pensamento mais liberal em relação a suas colegas? 
Tinha, e era muito esquisito estudar nesse colégio, porque na minha casa as paredes eram desenhadas, havia poemas rabiscados nelas, a música ia até a madrugada, a casa estava sempre cheia de artistas e eu tive uma educação muito liberal do meu pai (Geraldo Casé) e da minha mãe (Heleida). Mas como alguns parentes meus estudaram nessa escola e eu morava bem ao lado, minha mãe me colocou lá.

Não é contraditório você num colégio de freira?
Bem contraditório, mas, no final, eu achei ótimo. Hoje em dia ninguém tem aulas de filosofia, de nada. É tudo muito técnico, visando ao vestibular, múltipla escolha. Independente da religião, eu estudei numa escola com valores humanísticos, uma educação que me permitiu abstrair. Senão você não entende o sentido das leis, por exemplo.

Você não terminou a faculdade de Comunicação?
Não. Entrei na Comunicação, depois fiz um ano de História e, por fim, mudei para Filosofia. Eu já tinha emprego de atriz e estava viajando pelo Brasil com o Asdrúbal Trouxe o Trombone (grupo teatral).
Se tivesse feito a faculdade de Jornalismo, você teria sido uma comunicadora diferente?

Acho que não, porque a minha formação nessa área vem desde cedo. Sou neta do Ademar Casé, que tinha um programa de rádio que ia da manhã até a noite e foi um dos pioneiros do rádio; e meu pai, Geraldo Casé, que estava na primeira transmissão de TV. Eu tive um tipo de formação em casa que não ia deixar a faculdade me enquadrar.

O seu interesse pelo povo vem desses programas do seu avô?

Eu acho que vem um pouco, sim. Mas eu mesma nunca achei que faria isso. Sempre achei que seria atriz. Até a adolescência, quando a gente acha que é o centro do universo, eu achava que não tinha nada a ver com meu pai, meu avô, nem nada. Mas o resultado vem da diversidade de pessoas que havia na minha casa. Fui criada em Copacabana até os 16 anos. Eu era de uma família de classe média, meio dura, que, de vez em quando, passava sufoco. Meu pai e minha mãe tinham amigos de diversas classes sociais, de pele preta, de pele branca e eu, novinha, descobri um atalho para as coisas que eu achava mais divertidas.


Muita gente parece não entender essa sua transição entre as classes.
Quando fui fazer o ‘Esquenta’, eu já morava há 20 anos no mesmo apartamento onde moro hoje. Nunca disse que era pobre.

O ‘Esquenta’ é a realização de um sonho?
Nunca sonhei com isso, mas está tão bom que virou um sonho. As pessoas que trabalham comigo, os técnicos, todo mundo veste a camisa e se sente representado. Nunca trabalhei numa atmosfera tão legal.

Você tem vontade de fazer o ‘Esquenta’ ao vivo?
A gente tem vontade de fazer pelo menos um especial para testar. Eu adoro improviso e no ‘Esquenta’ me sinto como num jogo de futebol. Eu entro ali para gravar e é como se estivesse entrando numa partida. Aliás, ali eu sou uma mistura de jogador de futebol com DJ. Eu tenho um roteiro, mas eu toco de tudo.

Qual é a sua participação na produção?
Participo de tudo. Fui criada no Asdrúbal Trouxe o Trombone, fiz de tudo, figurino, colei cartazes, distribuí filipetas, carregava o dinheiro na caixa de queijo de Catupiry, fui criada com todo mundo participando de todas as instâncias. Essa é a minha formação, meu jeito, e só sei trabalhar assim.

Qual foi o convidado que marcou o ‘Esquenta’?
É impressionante como, às vezes, você vai pelo roteiro, acha que não vai se surpreender e alguma coisa te derruba. Uma vez, teve um concurso de escova e alguém gritou na plateia que uma das candidatas era prima dele. Aí, a bateria da Vila Isabel se empolgou, fez música para a menina, e todo mundo começou a fazer improviso. Eu sei que fiquei quase uma hora sem o microfone. Todo mundo falou, todo mundo cantou. Foi um dos momentos mais felizes do ‘Esquenta’.

Qual é o ritmo musical que é mais a sua cara? Funk, pagode ou samba?
É o samba. Sempre gostei. Quando você está muito triste, não consegue ir a um baile funk. O samba é para quando você está alegre e para quando você está triste. Mas eu gosto dos outros também.

A sua filha, Benedita, participa da criação do programa?
Era uma coisa bem informal, ela dava uns palpites. Aí o Hermano Vianna, criador do programa, ligava pra ela toda hora para pedir dicas de funk, pagode… Ela sabia o que estava bombando e ainda dizia para ele o que ia bombar em três semanas. Até que chegou um momento em que ele falou para a Benedita: “Acho melhor te contratar”. Quando eu soube, ela já estava com carteira assinada.

A Benedita é você, né? Ela gosta das coisas que você faz.
É uma bênção, nem sei a quem agradecer. Não é dizer que eu influencio. Acho que é ela que mais me influencia. Ela me mostra muita coisa nova.

 Como está a recuperação do Estevão (Ciavatta, diretor, produtor e marido de Regina que caiu de um cavalo em novembro de 2008)?
É um trabalho insano até hoje, ele faz fisioterapia todos os dias, ainda tem limitações, dificuldade de locomoção, mas melhorou muito.

O amor cresceu depois disso?
O amor já era grande. O que cresceu foi a minha admiração por ele, ver como ele enfrentou tudo isso.

O que você gosta de fazer nas horas vagas?
Não tenho muita rotina. Tem semanas em que eu gravo dois programas. É uma experiência que, às vezes, me deixa apavorada. Faço sessões de fono, mas falar durante seis horas com o som muito alto me tira de qualquer técnica. Eu acabo gritando (risos).

FONTE/LÉO DIAS (O DIA)

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